-Oi, Camila Abreu...tudo bem?
Ela se viu novamente espelhada naqueles olhos que ela nunca sabia decifrar ao certo que sentimento escondiam, e respondeu:
-Oi Mário Braga
Era final de julho, 20 de julho mais precisamente. Dia do amigo!
-FELIZ DIA DO AMIGO - que ironia Camila dizer isso a ele. Logo ele, que ela tanto amou, com quem tantas vezes sonhou, que tantas vezes pensou em abraçá-lo e beijá-lo até lhe sufocar, até tirar todo o ar do seu corpo!
-Obrigado.
O tempo que não perdoa ninguém os havia afastado muito, haviam perdido o contato, nem mais um email, nenhum telefonema, sequer sabiam que rumo a vida do outro havia tomado. A única coisa que ela sabia sobre a vida dele era que ele ainda escrevia uma coluna naquele jornal que ela sempre acompanhava.
-Li na sua coluna algo sobre amigos reais e imaginarios... E eu te pergunto... eu sou real? O que sou para você?
Mário Braga responde, meio surpreso pelo tom da pergunta:
-Eheheh. Na verdade, amigos imaginários eu estava me referindo a coisas de nossa mente... Tipo, quando a gente é criança, inventa amigos imaginários
E Camila diz meio se referindo a ele mesmo:
-Pra mim amigo imaginario é aquele que você ama, que sabe que pode contar, mas que não pode tocá-lo... por isso eu te pergunto: eu sou real?
Mário responde:
-Claro que tu é real.
-Eu acho que eu sou uma coisa da tua mente
-Tenho certeza de que não... A minha mente não me mente
- Mário se eu fosse escritora eu começaria escrever um romance assim: "... e eu te pergunto: eu sou real ou tua mente me inventou?"
- Camila, de repente, nada do que está aí fora é real... Nada do que a gente concebe como sociedade seja real... O casamento é uma ilusão... O amor é uma ilusão... Se a gente for analisar, começa a ver que muita coisa pode não ser real...
-Camila porque tu acha que o amor é uma ilusão? Há certas coisas que a gente prefere não questionar, sabe? Os seres humanos tem medo de aceitar ou tentar compreender...Ou descobrir...
Invadida por uma onda de ternura, sem pensar muito ela o abraçou e o beijou e acariciou seus cabelos. Que saudade daqueles cabelos levemente compridos. E ficaram ali por alguns minutos no meio de uma rua qualquer, sentindo o vento forte de final de julho, sem se importar com os olhares curiosos das pessoas que transitavam por ali. Como gostaria que esse momento naõ acabasse jamais, que não se perdessem nunca mais, mas a realidade era tão diferente e era preciso voltar para a realidade.
-Mário, tu sabe que amor é poeira, e eu sei também...
-Sim. É como poeira mesmo;
-O amor é uma mentira que os cantores inventaram pra vender cds
-O amor é uma ilusão, afinal... Mas o prazer dessa ilusão é real
-Na verdade Mario Braga, às vezes eu me apaixono por ti ...mas nesse exato momento, sei lá eu ando tão perdida... eu tava mesmo precisando só da tua amizade... nada mais.
A hora passava depressa e Camila precisava voltar para sua casa, para os seus problemas, para a sua realidade, embora o seu desejo fosse ficar pra sempre assim no parado, congelar o tempo naquele momento. Seguiu em frente lentamente, levando consigo a lembrança daquele momento. Ele também não queria deixá-la partir e antes de vê-la sumir no meio da neblina lhe gritou aquela frase de Caio Fernando Abreu que ambos tanto gostavam, mas ela não o ouviu:
-"Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim."
E depois a viu seguir e sumir, sumir, sumir... Ele mais uma vez sem lhe dizer o quanto ela era importante para ele. Ela mais uma vez sem saber o que significava para ele.
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