segunda-feira, 20 de julho de 2009

O que sou para você?


Era uma tarde bonita, sol, frio, pessoas circulando pela rua, final de julho.



Depois de um dia intenso de muito trabalho, telefones tocando, pessoas com problemas ela saiu sem rumo certo, sem saber exatamente onde iria. Talvez não fosse a lugar nenhum, apenas queria andar , arejar os pensamentos. Não sabia extamente porque havia seguido por aquela rua, simplismente deixava seus passos irem. E de repente se deparou com aquela imagem tão querida na sua frente...


Foi por meo acaso aquele encontro totalmente inesperado, ha muito tempo não se viam nem se falavam. Muitos anos haviam se passado desde o último encontro... Ele a olhou daquele mesmo jeito meio misterioso, meio tímido:
-Oi, Camila Abreu...tudo bem?
Ela se viu novamente espelhada naqueles olhos que ela nunca sabia decifrar ao certo que sentimento escondiam, e respondeu:
-Oi Mário Braga


Não se sabe extamente porque mas eles sempre se chamavam pelo nome e sobrenome, talvez porque aqueles nomes tinham uma força incrível, uma intensidade!Por várias vezes ela chegou a brincar com ele dizendo que se um dia se casassem seu nome ficaria muito forte: Camila Abreu Braga. Que forte, mas que lindo, intenso,! Um nome que lembra escritores, ela gostava de escritores. Planejava um dia ser uma escritora, mas com o passar dos anos este sonho ficou de lado, perdido em meio a tantos outros sonhos não realizados.
Era final de julho, 20 de julho mais precisamente. Dia do amigo!
-FELIZ DIA DO AMIGO - que ironia Camila dizer isso a ele. Logo ele, que ela tanto amou, com quem tantas vezes sonhou, que tantas vezes pensou em abraçá-lo e beijá-lo até lhe sufocar, até tirar todo o ar do seu corpo!



Em outra época chegaram a ser muito amigos, ela sempre o admirou muito, pelo seu trabalho, pelo seu talento, pelo seu caráter, pela sua simplicidade. Em alguma época no passado muito distante chegou a amá-lo. Ela lembrava que ele costumava aparecer em sua vida nos momentos mais dificeis, sempre que ela estava com um problema, com uma tristeza, com uma desilusão ele surgia, tal qual um anjo da guarda. E sua simples presença a aquecia, ele tinha o dom de amenizar seus problemas, de mostrar-lhe o lado bom das coisas. Ele costumava lhe dizer que a felicidade não era algo distante, mas que estava nas pequenas coisas que acontecem no dia-a-dia, até mesmo num beijo de boa-noite. E agora olhando novamente em seus olhos ela lembrava exatamente da noite em que ele lhe disse isso por telefone, laguns segundos antes de dormir... aquela doce voz...

Todo um universo esquecido formado por telefonemas, olhares, musicas, poesias, sonhos.



Agora que tantos anos haviam se passado, ele ainda conservava os cabelos levemente compridos, já um pouco esbranquiçados pelo tempo, mas sem perder o charme... seus olhos ainda tinham aquela mesma expressão misteriosa, oblíquoa. Que sera que havia acontecido com ele? Casou-se? Teve filhos? Ainda mora no mesmo lugar? Agora ela simplismente o olhava e dizia "feliz dia do amigo."
-Obrigado.
O tempo que não perdoa ninguém os havia afastado muito, haviam perdido o contato, nem mais um email, nenhum telefonema, sequer sabiam que rumo a vida do outro havia tomado. A única coisa que ela sabia sobre a vida dele era que ele ainda escrevia uma coluna naquele jornal que ela sempre acompanhava.
-Li na sua coluna algo sobre amigos reais e imaginarios... E eu te pergunto... eu sou real? O que sou para você?
Mário Braga responde, meio surpreso pelo tom da pergunta:
-Eheheh. Na verdade, amigos imaginários eu estava me referindo a coisas de nossa mente... Tipo, quando a gente é criança, inventa amigos imaginários
E Camila diz meio se referindo a ele mesmo:
-Pra mim amigo imaginario é aquele que você ama, que sabe que pode contar, mas que não pode tocá-lo... por isso eu te pergunto: eu sou real?
Mário responde:
-Claro que tu é real.
-Eu acho que eu sou uma coisa da tua mente
-Tenho certeza de que não... A minha mente não me mente
- Mário se eu fosse escritora eu começaria escrever um romance assim: "... e eu te pergunto: eu sou real ou tua mente me inventou?"
- Camila, de repente, nada do que está aí fora é real... Nada do que a gente concebe como sociedade seja real... O casamento é uma ilusão... O amor é uma ilusão... Se a gente for analisar, começa a ver que muita coisa pode não ser real...

Ora em meio a tantas desilusões, tantos problemas, tantos paixões que vão embora se lhe acrescentar nada, tantas madrugadas adormecida apenas ouvindo o som da sua TV pra amenizar a solidão, e só agora ele conclui que "o amor é ilusão". Ela já sabia disso há muito tempo.



-Mário essa coisa de "amor é ilusão eu ja sabia", sempre falo... amor é poeira que basta um ventinho e se esparrama, vira só lembrança do tempo em que existiu, se é que existiu
-Camila porque tu acha que o amor é uma ilusão? Há certas coisas que a gente prefere não questionar, sabe? Os seres humanos tem medo de aceitar ou tentar compreender...Ou descobrir...


Invadida por uma onda de ternura, sem pensar muito ela o abraçou e o beijou e acariciou seus cabelos. Que saudade daqueles cabelos levemente compridos. E ficaram ali por alguns minutos no meio de uma rua qualquer, sentindo o vento forte de final de julho, sem se importar com os olhares curiosos das pessoas que transitavam por ali. Como gostaria que esse momento naõ acabasse jamais, que não se perdessem nunca mais, mas a realidade era tão diferente e era preciso voltar para a realidade.
-Mário, tu sabe que amor é poeira, e eu sei também...
-Sim. É como poeira mesmo;
-O amor é uma mentira que os cantores inventaram pra vender cds
-O amor é uma ilusão, afinal... Mas o prazer dessa ilusão é real
-Na verdade Mario Braga, às vezes eu me apaixono por ti ...mas nesse exato momento, sei lá eu ando tão perdida... eu tava mesmo precisando só da tua amizade... nada mais.


A hora passava depressa e Camila precisava voltar para sua casa, para os seus problemas, para a sua realidade, embora o seu desejo fosse ficar pra sempre assim no parado, congelar o tempo naquele momento. Seguiu em frente lentamente, levando consigo a lembrança daquele momento. Ele também não queria deixá-la partir e antes de vê-la sumir no meio da neblina lhe gritou aquela frase de Caio Fernando Abreu que ambos tanto gostavam, mas ela não o ouviu:


-"Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim."


E depois a viu seguir e sumir, sumir, sumir... Ele mais uma vez sem lhe dizer o quanto ela era importante para ele. Ela mais uma vez sem saber o que significava para ele.

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